set 10, 2025
FIFA pune Sérvia por racismo: jogo contra Inglaterra tem estádio reduzido e nova investigação

Estádio esvaziado por punição e goleada inglesa em Belgrado

Quinze por cento das cadeiras vazias no estádio em Belgrado não foram por acaso. A FIFA e a UEFA determinaram o fechamento parcial de setores como punição à federação sérvia, após cânticos racistas no jogo anterior contra Andorra. O impacto foi direto no duelo das Eliminatórias da Copa do Mundo entre Sérvia e Inglaterra, disputado sob clima tenso dentro e fora de campo.

Em campo, a noite foi toda inglesa. Sob o comando do técnico Thomas Tuchel, a seleção visitante venceu por 5 a 0, numa atuação segura do início ao fim. Harry Kane abriu caminho, Noni Madueke ampliou, e o placar teve ainda gols de Ezri Konsa, Marc Guehi e Marcus Rashford. Foi a vitória mais folgada da Inglaterra desde a chegada de Tuchel ao cargo e um recado claro aos rivais do Grupo K.

A Sérvia tentou reagir, mas perdeu força de vez após a expulsão de Nikola Milenkovic por entrada tardia em Kane. Com um a menos, o time da casa desmoronou. A goleada amplia a pressão sobre a federação sérvia, já punida com a redução de 15% da capacidade do estádio por conta dos episódios de discriminação no jogo anterior.

O resultado mexe na tabela. A Inglaterra abriu sete pontos sobre a Albânia, vice-líder do Grupo K, e ganhou fôlego para garantir a vaga antecipada no Mundial de 2026, que será disputado nos Estados Unidos, no Canadá e no México. O cenário ficou ainda mais favorável: se a Sérvia tropeçar contra a Albânia em 11 de outubro e os ingleses vencerem a Letônia em 14 de outubro, a classificação inglesa fica bem encaminhada. A Sérvia, por sua vez, ficou um ponto mais distante, ainda com um jogo a menos, mas sem muita margem para erro.

O ambiente nas arquibancadas não ajudou. A polícia de choque precisou intervir durante o jogo por conta de confusões em setores específicos. Delegados da partida e oficiais de segurança registraram os incidentes, e relatórios devem chegar às comissões disciplinares de FIFA e UEFA nos próximos dias. A expectativa é de um novo processo contra a federação sérvia, que pode resultar em sanções adicionais.

Como funcionam as punições e o que pode acontecer a seguir

Fechamento parcial de estádio é uma das medidas padrão para punir comportamentos discriminatórios. Na prática, a entidade define setores interditados, comunica a federação local e exige que a partida aconteça com as áreas bloqueadas a torcedores. Em alguns casos, exige-se que as cadeiras exibam faixas com mensagens antidiscriminatórias. A ideia é reduzir o impacto do público, marcar posição e forçar mudanças na gestão do ambiente do jogo.

As sanções evoluem por degraus. Reincidência pesa. Dependendo da gravidade e da repetição, as federações podem ser punidas com:

  • Fechamento parcial ou total do estádio (partidas com portões fechados);
  • Multas financeiras mais altas e obrigações de implementar planos de educação e prevenção;
  • Restrição de venda de ingressos para jogos fora de casa;
  • Perda de mando de campo e, em casos extremos, dedução de pontos.

Além das punições pós-jogo, há ainda o protocolo de três etapas durante as partidas, em vigor há anos em competições internacionais. Se forem detectados atos discriminatórios, o árbitro pode: 1) interromper o jogo e solicitar anúncio no sistema de som; 2) suspender temporariamente a partida e recolher as equipes; 3) encerrar a partida se o comportamento persistir. É um mecanismo pensado para proteger atletas e garantir que o jogo não continue sob abuso.

A redução de 15% em Belgrado foi resposta direta aos cânticos no duelo com Andorra. Para este jogo diante da Inglaterra, a federação sérvia precisou isolar setores, reorganizar acessos e lidar com reembolsos de ingressos. Apesar das medidas, os incidentes desta terça-feira podem abrir novo processo disciplinar. Quando isso acontece, a tramitação é relativamente rápida: relatórios oficiais são reunidos, as partes apresentam defesa e, em seguida, sai a decisão, com possibilidade de recurso.

A goleada inglesa também tem repercussão esportiva. No Grupo K, cada ponto agora pesa na corrida por um dos lugares na Copa de 2026. A Inglaterra, com a vantagem construída, pode planejar rota de classificação com menos sobressaltos. Já a Sérvia, além de buscar recuperação técnica em campo, precisará demonstrar à comunidade internacional que está adotando medidas firmes para coibir abusos de torcedores.

É bom lembrar: campanhas de combate ao racismo no futebol não se limitam a slogans. Elas exigem fiscalização, identificação de autores, banimentos de indivíduos e ações educativas constantes. Clubes e federações que tratam o tema só como formalidade acabam punidos no placar e no bolso. As entidades esperam relatórios de stewarding, imagens de câmeras internas e depoimentos para responsabilizar quem promoveu os atos.

Do lado inglês, a vitória fora de casa e sem sustos vale mais que três pontos. Jogadores como Kane e Rashford chamaram jogo, a defesa foi sólida, e Tuchel conseguiu respostas rápidas do elenco. Em classificatórias longas, atuações assim consolidam confiança, especialmente para jogos que definem vaga. O elenco sai de Belgrado com moral elevada e com a vaga à vista, dependendo apenas de manter o nível e aproveitar os resultados paralelos.

Para a Sérvia, fica a lição em duas frentes. Esportiva: disciplina e controle emocional contam, ainda mais quando o adversário é eficiente. Institucional: tolerância zero a comportamentos discriminatórios é obrigação, não discurso. A linha do tempo até as próximas datas Fifa será curta. A federação terá de responder aos órgãos disciplinares, ajustar protocolos de segurança e trabalhar com autoridades locais para impedir novos episódios. Qualquer recaída tende a trazer penas mais duras.

O recado das entidades é direto: quem não garante um ambiente seguro e respeitoso perde mando, público e, na sequência, competitividade. Em Belgrado, a ausência de 15% do público foi visível. Se nada mudar, pode ser só o começo.