Quando Elizabeth Taylor, atriz revelou em gravações de 1964 que se sentia reduzida a um "rosto bonito", o mundo do entretenimento ainda não sabia o quanto isso pesaria sobre sua carreira. Hoje, o documentário The Lost Tapes, dirigido por Nanette Burstein, trouxe essas falas ao público, provocando um debate sobre a objetificação das estrelas de cinema.
As entrevistas foram apresentadas pela primeira vez durante Festival de CannesCannes, antes de estrearem como produção original da HBO Max em 3 de agosto de 2024. O filme, com 1h 40min e classificação TV‑MA, já soma 7,4/10 no IMDb a partir de 1.200 avaliações.
O ponto de partida do documentário são três fitas de áudio que permaneciam arquivadas nos bastidores da Paramount Studios. Nas gravações, a estrela de Cleópatra e Quem tem medo de Virginia Woolf? – onde ganhou seu segundo Oscar – fala com franqueza sobre a sensação de ser tratada como mercadoria. "A outra Elizabeth, a famosa, não tem profundidade ou significado para mim. É uma mercadoria que dá dinheiro", declarou, deixando claro o abismo entre a pessoa que vivia nos sets e a imagem vendida ao público.
O produtor executivo Tal Ben‑David descobriu as gravações ao catalogar indisponíveis depósitos da Paramount. "Foi como abrir um baú de segredos", contou, lembrando que as fitas estavam etiquetadas apenas como "Entrevista de Março 1964". A restauração sonora exigiu meses de trabalho, e a equipe recorreu a especialistas em áudio vintage para preservar a qualidade original.
Nanette Burstein, conhecida por Hillary (2020) e premiada em Sundance por On the Ropes (1999), trouxe sua sensibilidade de documentarista para montar um relato que mistura as fitas com fotos caseiras, recortes de revistas e trechos de filmes. Ao lado de Roddy McDowall e Richard Burton, que aparecem em imagens de bastidores, a produção constrói uma narrativa que destaca o contraste entre a vulnerabilidade de Taylor e o glamour que o público jamais viu.
No tapete vermelho de Cannes, críticos elogiaram a coragem da filmagem em expor a própria luta da atriz contra a objetificação. Variety descreveu o filme como "uma aula de história sobre a construção da fama e o preço que se paga quando a indústria reduz uma mulher a um simples objeto visual". Já o Le Monde ressaltou a importância de “dar voz à própria Elizabeth, que tantas vezes foi silenciada pelo brilho das luzes”.
Embora a imprensa de hoje esteja mais atenta ao assédio de paparazzi, a realidade que Taylor descrevia em 1964 já prenunciava o que viria décadas depois com a princesa Diana. "Ela foi pioneira – enfrentou um exército de fotógrafos antes mesmo que o termo ‘paparazzi’ fosse popular", afirma a historiadora de cinema Lúcia Pimentel. O documentário, portanto, serve não só como registro histórico, mas como convite à reflexão sobre como a indústria ainda lida com a imagem feminina.
Os produtores já sinalizam a possibilidade de lançar um “making‑of” com material nunca antes exibido, incluindo cartas pessoais de Taylor que detalham sua batalha contra a pressão mediática. Enquanto isso, a HBO Max pode aproveitar o sucesso para programar um ciclo de documentários sobre grandes estrelas de Hollywood que também foram vítimas da obsessão pública.
O filme concentra‑se nas entrevistas de áudio gravadas em 1964, nas quais Elizabeth Taylor reclama da redução da sua imagem a mero símbolo sexual, revelando seu desejo de ser reconhecida como atriz e pessoa complexa.
O produtor Tal Ben‑David, ao fazer o inventário de arquivos da Paramount, encontrou três fitas rotuladas apenas como "Entrevista de Março 1964". Elas foram restauradas por especialistas em áudio antes de serem incluídas no documentário.
A direção ficou a cargo de Nanette Burstein, que já dirigiu Hillary (2020) e recebeu o Grand Jury Prize em Sundance por On the Ropes (1999). Ela tem tradição em retratar figuras públicas em momentos críticos.
Críticos elogiaram a coragem de expor a vulnerabilidade de Taylor. A Variety destacou o filme como uma lição sobre a construção da fama, enquanto o Le Monde ressaltou a importância de dar voz à própria Elizabeth.
As entrevistas mostram que Taylor já enfrentava a invasão de paparazzi três décadas antes da princesa Diana. Ela descreve a mídia como um “exército de fotógrafos”, demonstrando sua postura de resistência precoce.
Elisa Santana
outubro 3, 2025 AT 23:21Nossa, que filme incrível, arrasa!