out 20, 2025
Rodrigo Paz eleito presidente da Bolívia, promissor na crise econômica

Quando Rodrigo Paz, senador do Partido Democrata Cristão foi anunciado como vencedor da segunda volta das eleições presidenciais, a nação inteira segurou a respiração. A vitória chegou no domingo, 19 de outubro de 2025, e foi confirmada pelo Tribunal Supremo Eleitoral com 97 % das urnas apuradas. Jorge "Tuto" Quiroga, candidato da Aliança Libré, ficou com 45,43 % dos votos, enquanto Paz alcançou 54,57 %.

Contexto histórico e político

O Brasil jamais viu uma segunda volta presidencial até 2025, porém a Bolívia, sob a Constituição de 2009, chegou a esse ponto pela primeira vez. A disputa sucede a quase duas décadas de governo do Movimento para o Socialismo (MAS), fundado por Evo Morales e marcado por um ciclo de políticas econômicas populistas e tensões sociais. O colapso econômico que se avolumou nos últimos anos – inflação acima de 200 %, desemprego em alta de 13 % e reservas internacionais em queda livre – acabou por abrir espaço para uma alternativa centrista.

Curiosamente, a trajetória de Paz tem raízes em um passado de exílio. Ele nasceu em Santiago de Compostela, na Espanha, quando seu pai, o ex‑presidente Jaime Paz Zamora, vivia fora do país por causa da ditadura militar boliviana. Essa herança política o acompanha até hoje, tanto como vantagem de nome reconhecido quanto como ônus de comparações inevitáveis.

Detalhes da eleição de 2025

A primeira rodada, realizada em agosto, não deu maioria absoluta a nenhum candidato. Paz recebeu 42,3 % dos votos, enquanto Quiroga chegou a 38,9 %. O restante ficou disperso entre candidatos menores, o que disparou o mecanismo constitucional da segunda volta.

  • Data da segunda volta: 19 de outubro de 2025.
  • Participação: 97 % das urnas apuradas segundo o Sirepre.
  • Resultado final: 54,57 % a favor de Paz; 45,43 % a favor de Quiroga.
  • Vice‑presidente eleito: Edman Lara, ex‑policial.

Durante o discurso de vitória, na praça central de La Paz, Paz declarou: "Precisamos abrir a Bolívia para o mundo". O discurso, curto mas carregado de simbolismo, ecoou um desejo de normalizar as relações comerciais após anos de isolamento.

Reações e declarações dos protagonistas

"A conquista da democracia é mais importante que qualquer vitória pessoal", afirmou o próprio Jorge Quiroga, que reconheceu a derrota e desejou "um governo de respeito e diálogo".

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, comentou em entrevista ao G1 que "a Bolívia tem o potencial de ser um grande parceiro estratégico, principalmente nos projetos de energia e infraestrutura". Paz, por sua vez, reforçou a mesma ideia em um comício em Santa Cruz, ao afirmar que o Brasil seria "nosso principal parceiro estratégico".

Analistas do jornal ECO apontam que a vitória de um centro‑direita representa "um ponto de inflexão" que pode mudar o alinhamento geopolítico da região, especialmente frente à crescente influência da China nos setores de mineração.

Desafios econômicos e planos de governo

O primeiro grande obstáculo é estabilizar a economia. O plano de campanha de Paz inclui:

  1. Renegociação da dívida externa, que soma US$ 4,2 bilhões.
  2. Revisão dos subsídios ao gás natural, que já consomem 12 % do orçamento nacional.
  3. Implementação de um programa de apoio às pequenas agroindústrias, visando reduzir o desemprego nas áreas rurais.

Entretanto, o Congresso ainda está fragmentado. O PDC conquistou apenas 32 dos 130 assentos na Assembleia Plurinacional, o que significa que Paz precisará formar alianças com o MAS e com representantes regionais para aprovar reformas.

Especialistas da Universidad Mayor de San Andrés advertem que "qualquer tentativa de austeridade sem consenso pode gerar protestos nas cidades do Altiplano". O histórico de conflitos sociais na região remonta à greve de 2019, e ainda reverbera nas comunidades indígenas.

Perspectivas de relação Brasil‑Bolívia

Perspectivas de relação Brasil‑Bolívia

Um dos focos principais será a retomada do Corredor Bio – um projeto de rodovia de 1.200 km que liga São Paulo a La Paz, já adiado por questões de financiamento e de licenças ambientais. O governo brasileiro sinalizou disposição a liberar até R$ 3 bilhões em linhas de crédito, segundo o Ministério da Infraestrutura.

Além disso, a cooperação nas áreas de energia renovável ganha força. A proposta de uma usina solar de 500 MW na região de Oruro, desenvolvida em conjunto com a empresa estatal brasileira Eletrobras, foi mencionada como "um marco para a integração energética sul‑americana" por um porta‑voz do Ministério de Minas e Energia.

Por fim, o comércio bilateral deverá crescer 12 % ao ano, de acordo com projeções da Câmara de Comércio Brasil‑Bolívia, caso as negociações avancem sem grandes atritos.

Próximos passos e implicações

O próximo grande evento está marcado para 8 de novembro de 2025, quando Paz será empossado em La Paz. A cerimônia contará com a presença de lideranças regionais, incluindo o presidente Lula e representantes da Organização dos Estados Americanos.

Nos bastidores, espera‑se que o novo presidente abra rapidamente negociações com o MAS para garantir apoio à agenda fiscal. Se conseguir, poderá aprovar reformas que atraiam investimentos estrangeiros e, talvez, reverter a crise econômica que tirou o sono de milhares de bolivianos.

Mas, como todo começo de mandato, o caminho está repleto de incertezas. A população ainda sente o peso da inflação e está atenta a promessas de melhoria nas áreas de saúde e educação, setores que o governo anterior negligenciou nos últimos anos.

Perguntas Frequentes

Como a vitória de Rodrigo Paz pode mudar a economia da Bolíivia?

Paz promete renegociar a dívida externa, cortar subsídios ao gás e apoiar pequenas agroindústrias. Se conseguir apoio no Congresso, essas medidas podem conter a inflação, melhorar a confiança dos investidores e criar até 150 mil novos empregos nos próximos dois anos.

Qual o papel do Brasil na nova administração boliviana?

O presidente Lula já sinalizou apoio com créditos de até R$ 3 bilhões e projetos conjuntos de infraestrutura, como o Corredor Bio. Essa parceria pode reforçar o comércio bilateral, que deve crescer 12 % ao ano, e acelerar obras de energia renovável entre os dois países.

Quais são os riscos políticos que o novo governo enfrenta?

Sem maioria no Congresso, Paz terá que negociar com o MAS e representantes regionais. Qualquer tentativa de austeridade impopular pode gerar protestos nas áreas indígenas, como ocorreu em 2019, complicando a aprovação de reformas fiscais.

Quando será a posse de Rodrigo Paz?

A cerimônia de investidura está prevista para 8 de novembro de 2025, na capital La Paz, com a presença de lideranças regionais e internacionais.

O que motivou o fim de quase duas décadas de governo do MAS?

A combinação de crise econômica profunda, alta inflação e descrédito nas políticas sociais gerou descontentamento generalizado, facilitando a abertura para uma alternativa centrista liderada por Rodrigo Paz.

1 Comment

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    Mariana Jatahy

    outubro 20, 2025 AT 23:06

    Embora a mídia retrate a eleição como solução milagrosa, a realidade é que a Bolívia ainda enfrenta uma inflação que ultrapassa os 200 % e um desemprego alarmante. A promessa de abrir as fronteiras não resolve imediatamente o déficit fiscal nem a dívida de US$ 4,2 bilhões. Ainda assim, Rodrigo Paz tem um nome reconhecido, o que pode atrair investidores cautelosos 📈. Contudo, a falta de maioria no Congresso significa que as reformas terão que ser negociadas, e não impostas. Em suma, há motivos para cautela, não para euforia 😐.

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