A reunião dos BRICS realizada em Kazan se destaca não apenas pelos temas discutidos, mas também pela ausência de ações concretas quanto à crise em curso entre a Rússia e a Ucrânia. Desde o início do conflito, em fevereiro de 2022, o mundo tem assistido a uma sequência de eventos que geraram enormes perdas humanas e econômicas. O bloqueio de uma condenação explícita à Rússia é um reflexo das complexas relações geopolíticas no cenário global. As expectativas se voltavam para um posicionamento mais firme dos BRICS, os quais se posicionam como um contrapeso às potências ocidentais e têm a oportunidade de mediar conflitos internacionais em busca de soluções pacíficas.
No centro das discussões entre os líderes do BRICS estavam questões como a ampliação da cooperação econômica, o fortalecimento do comércio entre os países-membros e a busca por novas formas de fomentar o desenvolvimento sustentável. No entanto, o clamor por paz adquire tom paradoxal quando colocado em perspectiva com a guerra na Ucrânia, que segue fora de controle. As declarações emitidas ao final da cúpula destacaram o papel dos BRICS como promotores da diplomacia, mas a ausência de um respaldo concreto coloca em dúvida a efetividade dessas intenções.
Cada país membro do BRICS tem suas próprias relações bilaterais com a Rússia, o que contribui para a complexidade da situação. A China, com sua crescente parceria econômica e militar com a Rússia, busca equilibrar sua posição enquanto navega a tensão com o Ocidente. Índia, por outro lado, mantém uma neutralidade cuidadosa, focando em seus próprios interesses energéticos e de segurança. Já o Brasil e a África do Sul assumem posições mais diplomáticas, tentando seguir a linha de não intervenção direta nos conflitos, o que muitas vezes é traduzido como conivência silenciosa diante das ações russas.
As expectativas em torno dos BRICS, enquanto uma coalizão de países emergentes que poderia desafiar a hegemonia das potências tradicionais, são altas, mas as dificuldades práticas são evidentes. O peso político e econômico da Rússia dentro do grupo torna o consenso em torno de uma condenação impossível, resvalando o bloco em uma inércia diplomática. Em um campo minado por nuances políticas, interesses econômicos e estratégicos, a retórica pacifista precisa ser acompanhada de ações mais decisivas e transparentes.
Enquanto a guerra se desdobra, o cenário internacional é atingido por efeitos colaterais que vão além das fronteiras regionais. A crise energética intensificada por sanções internacionais à Rússia impacta mercados mundiais, refletindo em incontáveis setores econômicos. Na Ucrânia, a população continua assistindo a um dos conflitos mais destrutivos de tempos recentes, com cidades devastadas e milhões de pessoas deslocadas. A ajuda humanitária e as sanções têm se mostrado insuficientes para alterar substancialmente a situação, e o papel dos BRICS na mediação pacífica continua sendo uma promessa vaga.
É imperativo para a comunidade internacional, incluindo os BRICS, reavaliar suas estratégias e papéis enquanto forças globais promotoras da paz. O reposicionamento pode não apenas ajudar a aliviar a crise atual, mas também transformar esses países em um verdadeiro coletivo de influência positiva nos desafios globais. Reflexões críticas e revisões de suas abordagens são necessárias para que não se tornem meras reuniões cerimoniais, mas verdadeiros fóruns de resolução de conflitos. O que se espera é um compromisso renovado e ações concretas em nome da humanidade, além dos interesses econômicos e políticos individuais.