Jair Bolsonaro voltou ao centro das atenções políticas e jurídicas do país após virar réu em mais um processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Dessa vez, a acusação é gravíssima: tentar articular um golpe de Estado contra o resultado das eleições de 2022. Ao ser indagado sobre o processo, ele disparou: “Se eu for preso, vou causar tumulto.” Não poderia ter sido mais direto — e provocador.
A declaração foi feita pouco depois da Primeira Turma do STF aceitar por unanimidade a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República, colocando não só Bolsonaro no banco dos réus, mas também aliados próximos. Entre eles está Alexandre Ramagem, ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e o empresário Almir Garnier, figura influente entre apoiadores do ex-presidente.
A decisão marca um novo patamar na crise política iniciada logo após as eleições de 2022, quando uma onda de protestos e discursos antidemocráticos sacudiu Brasília e outras capitais. O STF agora coloca Bolsonaro e seus principais aliados sob risco real de condenação, com penas que, segundo especialistas em direito penal, podem chegar a 39 anos de prisão em caso de condenação máxima.
Bastou a notícia da decisão circular para Bolsonaro lançar críticas contra o Supremo. Em tom revoltado, ele citou como exemplo as pesadas sentenças aplicadas a manifestantes dos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023, alguns deles condenados a até 17 anos. O ex-presidente se disse perseguido, colocando sua possível pena lado a lado com a de nomes como Débora Rodrigues dos Santos, figura emblemática do movimento bolsonarista punida pelo STF.
Quem acompanha os bastidores do Supremo já percebe o ambiente tenso. Alguns analistas avaliam a possibilidade de punições alternativas, como a prisão domiciliar, principalmente se Bolsonaro for considerado culpado em virtude de seu quadro de saúde — ele já passou por diversas cirurgias desde 2018. Mas, diferentemente do ex-presidente Fernando Collor, que cumpriu medida em casa em caso semelhante, Bolsonaro se mantém em atividade política constante, polarizando e inflamando seguidores, o que pode pesar contra uma decisão mais branda.
Além dos personagens principais, Alexandre Ramagem e Almir Garnier também enfrentarão processos rigorosos. Ramagem é visto por investigadores como figura-chave para organizar estratégias de defesa institucional durante o governo. Já Garnier é apontado como elo com empresários que financiaram protestos. Para o STF, não se trata apenas de descontentamento eleitoral, mas de uma ameaça direta à ordem democrática.
O cenário mostra que a tensão entre Judiciário e setores do bolsonarismo está longe de arrefecer. Os próximos meses prometem mais embate, novas trocas de acusações e uma pressão cada vez maior sobre Bolsonaro, que já ensaia embates públicos e coloca aliados em estado de alerta diante do avanço das investigações judiciais. Ninguém arrisca dizer qual será o fim dessa história, mas dificilmente o país verá um clima de calma tão cedo.